08h. O café vem com gosto amargo. Deve ser a responsabilidade sufocante dos prazos curtos.
Tic-tac.
12h. Não se espera o intervalo entre as garfadas. Não nos resta tempo. Desaprendemos a comer quando aprendemos as expectativas de lucro e faturamento do mundo contemporâneo.
Tic-tac.
18h. Ticam-se todas as tarefas. Criam-se outras no processo. A agenda continua cheia; a alma, por sua vez, esvazia-se cada vez mais.
Competitividade e conquista. No universo do ritmo acelerado, não pode existir inércia. Mas existe. “A depressão é a expressão de mal-estar que faz água e ameaça afundar a nau dos bem-adaptados ao século da velocidade” – M. Rita Kehl.
Desiste-se de ser, de fazer, de disputar em um embate fálico. E nada é pior que a desistência para uma sociedade que valoriza no currículo a “resiliência”. E o depressivo vive o vazio dessa experiência assim como vive a eterna sensação de má-adaptação ao seu meio social.
A delicadeza da vida psíquica choca-se com a veracidade da vida moderna. E onde fica o tempo que antes estava aqui?
Quem sabe na análise. Eu espero que sim. Para meus pacientes, para os pacientes de meus amigos e para quem eu não conheço, mas que ainda guarda na alma a esperança da recuperação.
Que o tempo inconsciente resgate a fantasia, o sonho e a duração das experiências para aqueles que não sabem o que é isso.
E para você, desejo tempo!

