Lembro de, ainda nova, ler em um alguns fóruns a ideia de que poderia se amar tanto a si mesmo ao ponto de nunca mais precisar de mais ninguém.
Aquilo me arrematou como uma promessa de que era sim possível viver uma vida sozinha. A certeza que a leiguice – de um espírito que mal havia adentrado as portas das experiências – nos leva é tão esperançosa quanto alienante.
Essa parte de mim é a parte que entende muito profundamente os abalos que os relacionamentos provocam em nós – que são muitos e chegam sem pudor nenhum na clínica.
Essa parte, que eu conheci cedo, só veio a ser iluminada depois que eu topei com a psicanálise…
Traço paralelos simultâneos nessa problemática: a individualização de um sistema que prioriza a autonomia em relação ao todo e nosso próprio narcisismo, que vez ou outra reacende a fantasia de um amor tão grande por si capaz de autocarregar-se mundo afora em conquistas coloridas e alegres…
Mas nós somos todos feitos dos demais.
Dos traços de nossas mães ao desejo, que não anda sozinho por aí, sempre à espreita do Outro.
Foi sereno se haver com uma construção mosaica de mim mesma.
Foi me amar sabendo que ser amado é tão bom quanto…
Da frustração com o “felizes para sempre”, parece vir a vontade arrebatadora de querer ser felizes então sozinhos, sem mais ninguém – no extremo oposto da reta.
Nem tanto ao mar nem tanto à terra, há uma mágia própria que só a apreciação do meio-termo é capaz de nos fornecer.

