Quando recebo um novo paciente, tento situar suas expectativas com lupa própria e única, daquelas que eles usam pra enxergar a própria vida.
“Em quanto tempo eu vou ficar bem?” me chega antes com a angústia de um peito doído, da pressa de um meio social que espera as grandes curas e descobertas, de uma vida a ser vivida em um gole só…
Eu não sei em quanto tempo você vai estar bem. Para falar a verdade, eu nem sei se a sua queixa inicial é a queixa que vai perdurar no resto do teu acompanhamento…
Eu não posso te prometer nada além de uma dedicação próxima, responsável e ética no tratamento; eu nem quero prometer nada além disso, porque qualquer outra promessa poderia vir seguida de uma frustração e quebra de confiança daquelas que podem ser irreparáveis…
O que eu posso te dizer é que por vezes, em uma terapia, a gente se cura sem nem perceber.
Porque cura não é só “remissão de sintomas”, definição médica e inadequada para psicologia/psicanálise…
Cura pode se parecer com aprender a conviver com – ou apesar do – teu sofrimento.
Cura pode ser entender que doer de novo não significa que não se progrediu.
Cura pode ser olhar para o que se viveu com mais cuidado e atenção, encontrando significado para si e para o mundo…
E isso tudo já muda muito. Isso pode inclusive ser tudo.
Os porquês de um processo psicoterapêutico ou analítico serão sempre teus. E existe um agridoce particular em descobri-los ao longo do caminho.

