Às vezes, chamo para a dança analítica o ódio, o ressentimento e a agressividade de meus pacientes. 

Deixo, também, que voltem esses sentimentos para mim. Suporto e vivo suas hostilidades.

O perdão cego de momentos que corroeram nossas entranhas nem sempre fazem parte de nosso passado. O presente, por sua vez, pode não estar bem e no futuro, pedaços de nossos destroços podem ser sentidos como cargas angustiantes.

Às vezes, o ódio é uma conquista. E odiar é um ato de rebeldia contra a resignação sufocante que enjaula nossos mais puros sentimentos de raiva. 

Winnicott concordaria comigo quando o coloco assim, como conquista. 

Necessita-se de certa maturidade psíquica para odiar. 

E Quintana diria que, em um mundo em que tanto mal encerra, necessário mesmo é saber o que odiar. 

Por vezes, eu odeio; em outras, deixo-me ser odiada; em todas elas, me sinto acolhendo e respondendo ao baile analítico da maneira mais pura e sensível possível. 

Que os nossos afetos sempre tenham a vazão correta em algum espaço. E que esse espaço nos permita dar um destino de vida a todos eles. 

Que seu ódio seja, junto com o seu amor, o motor capaz das grandes- e pequenas-transformações.

 

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